sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Da música às emoções- Um ensaio transdisciplinar .

William Paiva
RESUMO

Autor: William Paiva

Este estudo pretende levantar apontamentos e gerar reflexões sobre as relações causais da música no ser humano. Neste sentido, o texto busca objetivar dados consistentes para uma idéia que há muito se estuda, tornando-se tema central de discussões acadêmicas e científicas, de que a música desempenha um importante papel no desenvolvimento emocional do ser humano, e de que ela suscita no homem diversas emoções, trazendo assim, questionamentos e distintos conceitos a se estudar, averiguar e avaliar. Para isso, é importante que se contextualizem definições de música, assim como dos próprios conteúdos e engendramentos da emoção humana, sendo o dinamismo da intrincada relação destes dois complexos, o tema gerador deste escrito. O texto ainda busca estreitar tais articulações à recente musicoterapia, sendo esta uma área que estuda as relações entre música e ser humano, tirando do estudo dessas relações, potencialidades clínicas, de transformações, reabilitação, e promoção de saúde a partir de intervenções musicais direcionadas e focadas em musicoterapia.

Palavras-chave: Música. Emoção. Musicoterapia.

1 INTRODUÇÃO

            Muito se tem discutido atualmente sobre a música e sua influência direta nos seres humanos – influência que transita em vários lugares, contemplando desde aspectos fisiológicos do som, ao nível mais transcendental que essa arte de organizar sons e silêncios pode ocupar em nosso corpo, em nossa mente, espírito, enfim, em todo o conjunto complexo que traduzimos e conhecemos pela nomenclatura de ser humano.
Distintas áreas do conhecimento se organizam criteriosamente em atitudes científicas para pautar pesquisas que articulam música em suas relações causais, resultando em interessantes apontamentos de como a música nos afeta, ou ainda, em pesquisas mais específicas, que ou qual música nos afeta.
Quando falamos em atuação musical nas diversas áreas de um indivíduo, seja fisiológica, motora, emocional, social, psicológica, espiritual, entre tantas outras, do que exatamente estamos falando? O que exatamente se pretende conceituar?
Na busca por respostas, esta pesquisa tentará definições em várias disciplinas, promovendo saudáveis casamentos no que diz respeito à articulação de idéias em um prisma interdisciplinar, que trará diversas fontes de informação, da filosofia à ciência, e outras mais que assim vierem somar. Pois para tal estudo, é preciso que definições de música, bem como definições dos processos constituintes da emoção humana sejam bem explanadas, no direcionar de pontos cabíveis para questionamentos sólidos, embasando-se em híbrida literatura para essa imbricada relação.
Tendo de um lado a complexa música e de outro a complexidade das emoções humanas, e estando ambas em lugares que poderíamos chamar de subjetivos ou abstratos, é tendencioso que este escrito ganhe linguagem poética, pela descrição metafórica que se precisará acessar para a explicação deste ou daquele fenômeno.
Sendo assim, antecipo-me na tentativa da não romantizaçao deste estudo, antes, porém, defendo-me na própria semântica da linguagem verbal, que abre possibilidades de conotações para descrição de sentimentos e/ou sensações. Diferente da linguagem musical, que sem este conteúdo que movimenta significante e significado, traduz com maior facilidade uma emoção, sendo uma espécie de corporificação do sentimento, e então um caminho diferente para expressá-lo.
Logo, este pensamento pode se erguer como engendramento primário de uma problemática real para o desenvolvimento deste ensaio.

2 MÚSICA E SER HUMANO

            Sabe-se que enquanto sons agrupados, a música não é senão um corpo de ondas que vibram em certas freqüências, propagando-se em sua matéria física no meio inserida (LAZZARINI, 1998). Esta existência ondulatória vibracional e de freqüências, apenas por seus constituintes físicos, pode acessar áreas profundas de nossas estruturas neurais e psíquicas, suscitando de tais lugares, motivos comportamentais mensuráveis, porém imprevisíveis. Em outras palavras:
, propagando-se em sua matm em certas frequencia om maior facilidade um sentimento, como se fosse uma corporifica
[...] isolando o conteúdo psicossocial[1] que insere a música em um emaranhado de representações simbólico-culturais e significações, esta carrega em sua estrutura de fenômeno sonoro, um corpo de ondas que vibram em certas freqüências, e assim atingem diretamente o cérebro humano, podendo estimular desta estrutura, áreas que secundariamente promoverão mudanças ou transformações mensuráveis, tanto na estrutura, quanto nos comportamentos individuais e sociais gerais do ser-indivíduo que a experimenta (PAIVA, 2010, p. 5)

Sendo assim, música pode ser formatada em novas definições, podendo também ser deslocada de seu seguro território estético[2], pois se entendida como fenômeno sonoro, tudo o que soa pode ser uma potencialidade musical, assim, todo som está munido de estímulos, ou, todo som é o próprio estímulo, em qualquer nível que esta relação entre som e ser humano aconteça.
Tais conceitos se estreitam ao olhar que os cientistas musicais dão aos conteúdos sonoros. Para tomarmos exemplo, temos o nome de Murray Schafer (1977/2001, p. 20), quando diz: “Hoje, todos os sons fazem parte de um campo contínuo de possibilidades, que pertence ao domínio compreensivo da música. Eis a nova orquestra: o universo sonoro! E os músicos: qualquer um e qualquer coisa que soe! (grifos do autor)”
            Porém, pensando a música neste aspecto, e atestando sua existência desde épocas remotas, claramente percebe-se que este campo sonoro e contínuo de possibilidades é possivelmente inerente a própria existência humana, pois antes mesmo de ser chamada música, os sons já inundavam nossos ouvidos, e sua evolução foi em conseguinte a evolução do homem e homem civil, que em sua capacidade de socialização, socializou assim os sons, nos mesmos padrões de civilização, de agrupamentos e organizações – nasce a música.
De acordo com Bertinato (2006):

A história humana, desde o início, é povoada por sons. Enquanto vibração (onda) que se propaga pelo ar, chegando ao ouvido e sendo percebida pelo cérebro, o som povoa a existência humana em cada uma de suas fases ao longo da história. [...] [e] em qualquer ambiente habitado pelo ser humano o som tem sempre o potencial de ser usado como matéria-prima de uma arte – a música. Esta é a organização do mundo sonoro pela mente humana. É uma tentativa de estabelecer ordem em meio ao caos sonoro do ambiente. Melhor ainda: como todas as outras artes, é uma tentativa de dialogar com este caos por meio de ordens propostas.[3]

            No sentido de a música retratar uma tentativa de diálogo com o caos sonoro, propondo desta relação (música/meio) uma ordenação, sobressaltam apontamentos que emergem da consideração de que a música se relaciona com o ser humano dentro de uma realidade dinamicamente cultural. Pois, cada ordenação proposta a partir da música se trava em um ambiente de caos sonoro, sugerindo essa mesma ordem, apenas ao ambiente que este caos é validado. Ou seja, a ordem proposta neste ambiente, não será a mesma ordem que se proporá naquele, pois ambos contemplam diferentes campos de caos – sonoros e ambientais.
Logo, sendo música uma estrutura nascida dessa ordem, ela apenas será compreendia dentro de um contexto cultural, sem dizer das interferências do indivíduo que a executa ou a cria, quando despeja nessa prática, sua individual e interna musicalidade, bem como sua percepção de mundo, significações, representações etc., que já são naturalmente, influenciadas pelo próprio meio:

Toda cultura possui o seu próprio ritmo, no sentido em que a experiência consciente é ordenada em ciclos de mudanças de estação, de crescimento físico, de empreendimento econômico, de profundeza ou de amplitude genealógica, de vida presente e vida futura, de sucessão política ou de outros fatos periódicos quaisquer aos quais se confere uma significação (BLACKING, John. Apud. MORAES, 1991, p.19).[4]

            Enveredando-se neste processo de culturalização dos sons (que são recorrentes dos fenômenos naturais e periódicos do meio, e no tempo, sugerindo a formação de um ritmo), – a saber – música convencionada e padronizada culturalmente, chega-se na idéia de que a música enquanto estrutura é um retrato da história e cultura, e sua significação será emprestada do conteúdo de significações do indivíduo atribuidor.
            Ora, se o homem se relaciona com os sons desde sua gênese civil, e a evolução da massa humana responde de igual modo à evolução musical, esta última ganha formato distinto em cada lugar, que vai depender de qual massa humana[5] a articulou e engendrou sua estrutura; para qual finalidade e/ou funcionalidade essa arquitetura musical se construiu, e ainda, qual tipo de arquitetura musical se construiu.
            Assim, é possível sugerir que sons e músicas não carregam em si significações próprias, antes, necessitam de um ser que os atribua (enquanto signos), representações que só serão compreendidas dentro de seu contexto de formulação – do indivíduo para a música, ou na dinâmica de estrutura social: cultura – música.
Herder (1807) traduz este conceito em uma inteligente afirmação, quando declara em frase assertiva: “Nada é mais exclusivamente nacional e mais individual do que os prazeres do ouvido.”[6]
            Neste contexto, os prazeres do ouvido serão entendidos (enquanto prazeres[7]) dentro de um conteúdo exclusivamente nacional, neste caso, música pode ser definida como resultante dos processos de formação das identidades culturais, onde a não compreensão destes processos esvairia qualquer tentativa de compreensão dos domínios sonoro-musicais, enquanto cultura.
            Estes estreitamentos da música à cultura são de grande relevância, pois articulando os sons musicais perto dos prazeres do ouvido (emoções humanas), entenderíamos a possível ligação entre esses dois campos, partindo do ponto conceitual em que o comportamento emocional pode ser um processo de também reprodução sócio-cultural, ou melhor, um processo de re-significação e introjecção de símbolos pré-existentes, aprendidos na vida social[8], assim as emoções e a música estariam em lugares comuns, facilitando o diálogo entre duas classes que perceptualmente erigem-se sem semelhança, ao passo que se afunilam, assemelhando-se intrincadamente.


[1] O que faz jus à psicologia individual e à vida social, de acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2010.
[2] Refere-se à estética tonal do ocidente, que insere a música em padrões rítmicos, harmônicos e melódicos, fechando as possibilidades de explorações sonoras e de experimentações dos sons.
[3] Ibid., p.1.
[4] BLACKING, John. Apud. MORAES, O que é Música, 1991, p.19. Citado por BERTINATO, 2006, p. 2.
[5] Massa humana aqui é colocada como povo, sociedade, grupo; qual massa humana = qual cultura.
[6] Herder. Apud. BENDIX, Regina. The Pleasures of the ear: Toward an Ethnography of Listening, 2000.
[7] O sentido de prazer está exatamente no prazer emocional de um ouvido culturalizado; Digerindo sons conhecidos culturalmente, o ouvido conota o corpo e a mente a uma experienciação de prazer musical.
[8] Cf. LEVI-STRAUSS, 1978/1985.

Um comentário:

  1. gostaria de uma resposta concreta sobre o dentista, se estiver em reforma mesmo, qual a possível data de entrega, se for falta de um profissional sejas transparentes e nos avisem, pois é difícil ficar sócio do sindicato e não ter um bem comum tão imprescindível, sou sócio desde 91 e na tão mal falada diretoria nunca fiquei sem tratamento odontológico.

    silvio 9511-33881

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